terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Tattvabodhaḥ, aula 4, resumo - Vaidika

Duração da aula 1h19m57s; cânticos iniciais.

Estar livre de resistência interna é śraddhā, apenas se escuta [o mestre] e, deste modo, escutar torna-se uma meditação. Através do processo de escuta devido a śraddhā o entendimento torna-se claro. Na Gītā, Krishna fala “śraddhāvān labhate jñānam” - a pessoa que tem confiança adquire conhecimento (B.G. 4-39).

Samādhāna – a capacidade da mente em estar concentrada numa única coisa – cittaikāgratā, num objeto, numa coisa, sem se dispersar. Em Vedānta, a mente é chamada de vṛtti pravāha, pensamento, ondulação ou fluxo da mente.

Entre as quatro qualificações mumukṣutvam significa o desejo que haja libertação para mim. A ideia da pessoa que tem o cabelo a arder e só tem urgência em encontrar água para molhar o cabelo. Com essa urgência eu quero entender ātman, o absoluto, a minha natureza.

Quem tem as quatro qualificações está preparado para o estudo de Vedānta e de Tattvabodha.

De seguida, no livro, o aluno quer saber mais sobre a verdade. O professor diz que satyam é “aquilo que existe sempre: no passado, presente, futuro, ou seja, é trikālābādhitam. Esse satyam é ātman.

Vedānta é um meio de conhecimento, informa-nos algo. Os olhos, que nos dão informações visuais, são um meio de conhecimento e o seu âmbito é ver formas, cores, etc. O nariz é um outro meio de conhecimento, de aromas e cheiros, e é a autoridade para esse conhecimento, logo, não pode ser questionado por outro meio de conhecimento, o olho, por exemplo.

O Veda tem como tema o absoluto, Brahman. O objetivo dessas palavras é apontar-nos Brahman. Quando o professor diz satyam aponta para Brahman, que é [o] eterno. Em Vedānta tem que haver lógica e o conhecimento não pode ser contrário à nossa experiência. Vedānta e Tattvaboddha vai falar de ātman, que é absoluto, livre de limitação e isso não é contrário à lógica nem à experiência.

O texto diz que, ao contrário de tudo o que conhecemos, há uma coisa que existe sempre e esse é ātman, tudo o que for diferente de ātman é mithyā, aparente. Ser aparente, mithyā, é aquilo que parecendo uma coisa, depois de analisado, entende-se de outra forma. O exemplo clássico dos Vedas é o pote de barro, ghaṭa. Analisando o pote, vê-se que apenas existe barro, mesmo que seja desfeito em pedaços. Então, é pote ou é barro? Depende. Depende da maneira de olhar. Isso é mithyā. Aquilo que não pode ser definido completamente. O mesmo com o livro que “desaparece” e dá lugar à página, que “se torna” papel, e, papel “torna-se” árvore. Mithyā não aquilo que é falso, mas aparente. Pelo contrário, satyam é aquilo que não muda. Qual é a verdade do oceano e da onda limitada que morre na praia? Água! Água é a verdade de ambos.

Tudo aquilo com o qual nos identificamos tem uma duração limitada, o que não muda e sou essencialmente, verdadeiramente, o meu satyam, a minha verdadeira natureza, tat, é que eu tenho de conhecer. Assim que descubro o meu real o meu relacionamento com o aparente muda. Na ilusão de uma água projetada no asfalto pelo calor eu ajo naturalmente sabendo que é apenas uma miragem, como num show de ilusionismo – assim, eu posso lidar com aquilo sabendo que terá uma duração limitada e que se irá transformar. Desta forma, muda a atitude do sábio, o seu ponto do referencia em relação a si mesmo é o absoluto; joga-se o jogo [da vida] mas vê-se o absoluto (como um ator no teatro). Descobrir mithyā e satyam é o jogo.

Então o que é ātman?, pergunta o aluno, mais à frente. Aquilo que é alcançado por todos, aquilo que é a verdade de todo e qualquer ser, ātman é “Eu”, a Consciência. O conceito de Eu está sempre presente, no entanto, a gente não sabe nada sobre Eu, porque muda constantemente [muda o corpo, muda a mente]. A primeira coisa é entender, “quem sou eu?”. Temos várias respostas que dependem do momento, porque não existe um conhecimento claro, mas conhecimentos contrários, opostos, daí a confusão.

O ātman é muito diferente daquilo que, normalmente, se acha que é. É diferente de sthūla śarīra, o corpo grosso (peso, sexo, idade, altura, etc). Às vezes, referimo-nos ao corpo como “este corpo”, (na frase: “quero mudar este corpo”, por exemplo) portanto, há uma experiência de ser diferente “do corpo”, “desse corpo”. Diferente também da energia que alimenta o corpo, sūkṣma, na forma da respiração, o prāṇa. Diferente do pensamento e do corpo causal, da semente que tem as tendências para um novo nascimento que se manifesta numa dada circunstância. Tampouco nenhum estado de experiência como acordado, sonhando ou dormindo profundamente, mas, sākṣī, testemunha/presença dos três estados de experiência. Está presente no acordado, naquele que dorme, naquele que dorme profundamente. Como a testemunha que vê um acidente de carro, não estando envolvida, ela viu tudo.

Primeiro o professor, no livro, fala em termos de negação, negando tudo aquilo que o aluno pensa que é mas não é e, depois, diz que o Eu é sat-cit-ānanda, existência, consciência, plenitude.