quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Resumo Aula 11 Upadesha Saram - Pazpazes, Porto

Duração da aula 1h13m42s; cânticos iniciais e leitura até ao fim do texto.

Aquele que tem de ser diferente, diferente daquele que está dormindo, diferente de conhecimento e ignorância, sempre consciência, que não se apaga, que é completo, ātman.

Existe um īśvara? Qual é a sua natureza?

Verso 24: a diferença entre jīva e īśa - jīva quer dizer aquele que vive, esse sou eu; īśa que eu saiba é todo o universo, não limitado, tem todos os poderes, todo o conhecimento.

A diferença que vê entre o indivíduo e o todo é só em termos de roupagem, de forma aparente, essencialmente aquilo que eu sou é o brilho que é consciência que faz a mente funcionar, os sentidos funcionarem, a mesma luz que é a base da criação que nos possibilita conhecer. O Sol só pode ser visto porque existe na consciência também, a consciência que existe no meus olhos é a mesma base de fundo adhiṣṭhāna que permite ver esse Sol. É a mesma consciência do oceano e da onda, aquilo que constitui a onda é água e aquilo que constitui o oceano é a mesma água - a forma veśa de onda é pequena e limitada, a forma oceano é grande e vasta mas essencialmente a base, a natureza essencial de ambos é a mesma (o que constitui verdadeiramente é água). A consciência ali refletida faz com que eu me identifique com ela. A verdade do jīva é consciência, a verdade desse todo universo é consciência, não duas, mas uma consciência mas parecem diferentes devido à roupagem. Esse īśa nada mais é do que eu. A verdade é uma única.

Verso 25: se eu dou muita atenção e me prendo à roupagem do corpo identifico-me como indivíduo. Na roupagem desse universo eu vejo o todo, separado. Deixar de lado a forma individual e a total de lado e o que sobre é a consciência - a mesma que eu sou. A visão do criador é a visão daquilo que eu sou. É um conhecimento imediato, completo, livre de dúvidas.

Verso 26: a visão de si mesmo é sentido de eu estar estabelecido em mim mesmo, não a roupagem (corpo, nome, papel social, etc) mas a visão clara do que eu sou. O ātman é livre de dualidade é o eu, que é o mesmo eu que é cada pessoa, é o mesmo sujeito, uma única consciência; isto porque ātman não é dois, nem três, mas um único. A base do intelecto é consciência mais uma forma que o pensamento. Na meditação com japa, mantra, o foco é um pensamento, em vigília o normal é seguir de pensamento em pensamento, isso é o "pensamento macaco" pois vai de galho em galho e assim por diante e é o que a gente faz, normalmente, por associação de um pensamento para outro. O foco da meditação é descer para a base do pensamento, o pensamento esquilo Svāmi Dayānanda dá esse nome a isso por comparação com o esquilo que desce da árvore para recolher comida e depois volta a subir - vem na base ao contrario do macaco que fica sempre nos galhos. Na meditação com manter o foco está na base: faz-se o mantra, e depois silêncio, faz-se de novo o mantra e novamente silêncio e assim por diante. O foco fica no espaço, silêncio, entre o mantra. O silêncio torna-se claro. A prática da meditação tem por objetivo fazer com que o meditador medite durante o dia em geral e que esteja em paz, silêncio, consigo mesmo, consciente, em contacto claro e evidente com o que sou, a base. Não é preciso eliminar pensamentos, nem lutar com eles, mas manter o conhecimento "eu sou a base, eu sou a paz". Isso faz toda a diferença

Verso 27: a consciência não se opõe à ignorância, é a base de conhecimentos e ignorâncias, está livre de ambos. Na minha mente existe ignorância de determinadas coisas, por exemplo Telugu, uma língua da Índia. Eu tenho consciência disso, dessa ignorância. Tendo adquirido o conhecimento de si mesmo que outro conhecimento é preciso adquirir?

Verso 28: Nesse processo de questionamento de si mesmo descobre-se a sua natureza imutável, livre de nascimento, livre de morte, completa, a felicidade plena.

Verso 29: Quando se fala de libertação, é necessário falar de aprisionamento. Através desse conhecimento percebe-se que não é um soltar de amarras pois nunca se foi preso, não é um processo gradual mas um descobrir que nunca se foi limitado é um processo de conhecimento não de transformação. Não se deixa de ser limitado para passar a ser ilimitado. A dualidade pertence à forma, ao corpo, ao mundo, a mente sempre será assim, a forma também. Descobre-se que que Eu nunca fui limitado, sempre fui completamente livre, livre desse corpo e dessa mente. Essa liberdade é descobrir a identidade alem de limitações. É alcançado o estado de ser, aquilo que sempre fui, luz, consciência sempre brilhante. Eu sou livre, apesar de o dia-a-dia trazer coisas agradáveis e coisas desagradáveis.

Verso 30: Porque se fala de um processo difícil de purificação, de austeridades, se eu já sou puro? Quando se faz o sacrifício pelo sacrifício o ahaṅkāra cresce. A grande ascese, a grande disciplina que acaba com o ego, colocando-o no seu lugar a desempenhar a sua função, é o processo de conhecimento e questionamento, na medida certa, daquilo que eu verdadeiramente sou. Essas são as palavras de Ramana.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Resumo Aula 10 Upadesha Saram - Pazpazes, Porto

Duração da aula 1h16m25s; cânticos iniciais e leitura até ao fim do texto.

Quem sou eu? Quem é essa pessoa? Qual o meu objetivo?

Não conseguindo responder a essas questões elas ficam escondidas ao longo da vida. O ponto principal de Vedānta é lançar uma luz, uma clareza, nessa tema. Mostrar quem eu sou é algo muito mais profundo e transcendental no sentido que o eu está livre das modificações. Isto serve para o ser humano porque fala sobre o ser humano fundamental. Outra questão do Vedānta é perceber a causa do mundo e desse universo. Sem lidar com essa questão também não conseguimos sossegar. A questão sobre o criador é fundamental para nós.

1º) a lógica diz-nos que o Criador deve existir porque se a criação existe deve existir um Criador;
2º) se ele não está aqui, ele deve estar nalgum lugar, talvez num Céu.

A pergunta seguinte será:

Onde estava esse Criador/Deus antes da criação do Céu?

Quando dependemos apenas na lógica a resposta também tem que ser lógica. Não ficamos satisfeitos com respostas sem lógica, como: se Deus é todo-poderoso porque ele não interfere e beneficia ou ajuda as pessoas? E como é que ele decide ajudar? E esse tal de Diabo, o Demónio, Deus permite atuar, ele é uma ameaça, um poder paralelo, de onde ele veio? São perguntas que o intelecto não consegue obter uma respostas satisfatória. Desde sempre, há mais de 20.000 anos, que os Vedas falam sobre assuntos que a mente humana, por si só, não consegue descobrir. Os Vedas são a autoridade nesse assunto. Os Vedas vêm junto com a criação, como se fossem um manual de instruções, os mestres não inventaram esse conhecimento, apenas recebem o texto num estado elevado de meditação.

Entretanto, a professora Glória explica a suposta "teoria da invasão ariana" e a importância e estrutura do Sânscrito.

A visão dos Vedas como o ser humano não separado de um corpo único como o Criador, é a única crença religiosa que vê o Criador na forma de todo o universo, daí a reverência e respeito pelos animais e todos os seres vivos - a ideia é somente existe Deus, não um Deus mas a única coisa que existe é Deus e nada além d'Ele. A religião Hindu, na sua essência, é védica. A Upaniṣad refere que quem vem como convidado deve ser bem recebido, da melhor maneira possível, como a própria divindade que chega. O jovem indiano, hoje em dia, não sabe o que a Upaniṣad, nem a própria Gītā. A professora fala um pouco sobre a história de Svāmi Cinmayānanda, mestre de Swami Dayānanda, e o antes e depois da sua descoberta da grandeza do conhecimento dos Vedas exposta por Svāmi Tapovan. A professora conta também uma história sobre a conversão religiosa levada a cabo por cristãos.

Análise do verso 24: o significado da palavra īśa, īśvara, um ser inteligente que é também, a própria matéria da criação. Ele é também Deus, nada do que existe está separado dele. Ele é o Todo Poderoso que governa através de leis da natureza impessoais que a ciência estuda, que funcionam a todo o momento. A diferença entre o indivíduo e o todo é apenas em termos de veśa, vestimenta/forma. O criador é todo o mundo físico, o mundo das ideias e do inconsciente. Ele é quem dá o conteúdo a esse universo, ele é, de facto, a verdade de todo o universo. Essencialmente não somos diferentes nem separados, em termos da forma parecemos separados - Ele é o universo e eu o indivíduo. A professora Glória conta a parábola da onda e do oceano para explicar melhor esse conceito da não-diferença entre ambos. A mesma consciência que é uma única essencial.