quinta-feira, 31 de março de 2011

Bhagavad Gita, Aula 17 resumo - Vaidika, Maia

Duração da aula 1h07m11s; cânticos iniciais.

Os últimos capítulos procuram lançar o entendimento da junção entre o indivíduo com o todo. O indivíduo não é separado do Todo de nenhuma forma. Essencialmente, os dois são a mesma realidade básica que é brahman, o absoluto. Como vimos, as três características básicas, sattva, rajas, tamas, estão presentes no nosso corpo e, ao mesmo tempo, nos objetos, no universo, na criação. A pergunta de Arjuna que inicia o capítulo XVII é um pouco diferente das anteriores, nomeadamente "como devo agir?". Neste momento, a sua preocupação é diferente - Arjuna quer saber o que é śraddhā, a confiança, o acreditar.

Para atingir um objetivo, temos atos para o conseguir. Por exemplo, na tradição védica existe um ritual para dar nome a uma pessoa. Esse ritual tem todo um processo, num templo, com várias etapas para a criança receber o seu nome. Esse nome dá um início e marca um momento. Arjuna diz que existem pessoas que fazem rituais mas não seguem o que as escrituras mandam seguir. Sobre essas pessoas, ele diz que possuem śraddhā, apesar de não seguirem a prescrição da escritura. Arjuna quer saber se essas pessoas são sattva por fazerem rituais, ou, se são tamas por não seguirem a prescrição, ou, se são rajas por terem desejo de alcançar alguma coisa.

Kṛṣṇa explica, como de costume, à sua maneira. Primeiro explica que śraddhā é o acreditar em alguma coisa, a fé, aquilo a que se dá valor. As pessoas agem conforme a sua mente e ela determina o que é importante; assim, é a śraddhā da pessoa e assim é a pessoa. As tendências das pessoas, os seus saṃskāra, são a sua śraddhā.

O tipo de fé que a pessoa tem, independentemente, da sua religião indica a sua śraddhā. Sattva śraddhā é uma fé nos deuses, a devas, a īśvara. Rajas śraddhā é uma fé na satisfação dos seus desejos. Tamas śraddhā é uma fé ligada a fantasmas, desencarnados, para ajuda. O mesmo para a alimentação, tapas e dānam (sattva, rajas ou tamas). Essas quatro ações são escolhidas conforme a sua crença. Pelas ações determina-se a predominância no tipo de pessoa que se é.

No verso 8, Kṛṣṇa fala sobre o alimento sattva e a professora explica a relação entre alimento, yoga e āyurveda. Especificamente, falando sobre alho e cebola são alimentos um cheiro muito forte, e, em excesso, trazem apego (veja-se a forma como o alho cola nos próprios dedos ao ser cortado). Todos os sabores fortes alimentam rajas. A comida sattva é aquele que mantêm a vida, ajuda à clareza na mente (ao contrário do alimento tamas), mantém a força, saúde e bem estar, é suculento, tem um pouco de óleo, tem frescura, é agradável e perfumado.

Se o prato tem todos os sabores cria equilíbrio e traz mais satisfação: doce (como o arroz), salgado, picante (pimenta ou gengibre que mantêm o fogo digestivo e ajudam à digestão), azedo/amargo (iogurte), adstringente (feijão).

A comida rajas é a comida que é muito: quente ou seca ou amarga, picante, salgada... é a comida que se come chorando, ou seja,

Tamas é a comida meio cozinhada ou crua. A comida crua cria Vata no corpo, ou seja, agitação no corpo e mente. A comida muito seca, como o queijo gorgonzola, é tamas. A comida que não alimenta, que não nutre, é tamas. As sobras são tamas. A comida tamas cria tamas [no corpo, na mente].

Sobre o oferecimento, Kṛṣṇa diz que um ritual, ou oração, é sattva yajña e que deve ser feito de uma maneira própria. Deverá ter uma sequência apropriada, adequada, harmoniosa. O ritual é feito sem se pensar no resultado, mas, feito da forma correta com uma mente discriminativa e tranquila. Sobre o rajas yajña Kṛṣṇa diz que é feito devido a querer um resultado. Sobre o tamas yajña Kṛṣṇa diz que é o ritual feito sem se preocupar com prescrição.

Sobre tapas, disciplina, Kṛṣṇa fala sobre a disciplina física, oral e mental. A disciplina física como, pūjā, śaucam, ārjavam (alinhamento), brahmacarya (consciência sobre os impulsos), ahiṃsā (não violência). A disciplina da fala é a atenção ao que é falado, as palavras escolhidas não devem causar reação nas pessoas, devem ser verdadeiras e, ao mesmo tempo, devem ser agradáveis e benéficas, a repetição (japa) e o silêncio (maunam) são exemplos disso. A disciplina mental é o exercício de um pensar claramente, estar tranquilo e atento aos pensamentos, organizar os pensamentos de uma forma agradável (não nutrir pensamentos desagradáveis).

Sobre a disciplina que é sattva, Kṛṣṇa diz que é aquela que deve ser feita. A disciplina que é feita para receber elogio é rajas. A disciplina que é feita para trazer sofrimento ao corpo é rajas.

Sobre dānam, doação, Kṛṣṇa diz que sattva dānam é aquela que acontece quando deve acontecer, quando deve ser dada se a pessoa ou entidade precisar, e que é dada no momento, lugar e à pessoa certa. Tradicionalmente, no momento da entrega diz-se "dātam, dātam, dātam mayā", no sentido "eu dei, agora é seu". A doação rajas acontece devido à espera de um retorno, um resultado (como reconhecimento) e que é dado com relutância. Sobre a doação tamas Kṛṣṇa fala que é uma doação que não tem nada haver com quem recebe, a hora, lugar, recipiente ou forma (com desprezo ou desconsideração) é imprópria.

“Om tat sat” tem a capacidade de neutralizar qualquer erro, obstáculo na execução da ação. Om tat sat são palavras de īśvara, "om" significa tudo o universo físico e causal, o absoluto, pela sua pronuncia está associado todo o conhecimento dos vedas. Tat refere-se ao todo e sat aquilo que é real. O mais importante em qualquer oferecimento é śraddhā, em todas as áreas que haja uma mente mais calma e clareza pois desejo autoconhecimento, isso é sattva.

O que não tem śraddhā é tamas, com o desejo é rajas. Com o objetivo maior, do autoconhecimento é sattva.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Bhagavad Gita, Aula 16 resumo - Vaidika, Maia

Duração da aula 1h01m57s; cânticos iniciais.

Este capítulo tem como nome "daiva asura sampad": a natureza divina e a natureza "demoníaca", num sentido de uma positiva e outra negativa; uma natureza que conduz à liberação, auto conhecimento, e outra que atrapalha o autoconhecimento.

No capítulo XIII foram falados vinte valores como ahiṃsā, kṣānti, ārjavam, e outros, que são valores universais, e, aqui eles repetem-se. Para ter esse conhecimento é necessário ter desejo por ele e discriminação. Kṛṣṇa ao falar dessas duas naturezas: a natureza daiva é a natureza daquela pessoa que assimilou esses valores e a natureza asura é a natureza daquela que não assimilou esses valores. Em criança, não temos um valor pelos valores. A pai e o mãe dizem para agir de determinada forma e é assim que a criança age, pois, se agir em contrario será repreendida. Mais tarde, a pessoa seguirá esses valores se tiver apreendido o valor dos valores, senão irá deixa-los para trás. Por exemplo, por vezes, é mais fácil ou conveniente mentir em determinadas situações da vida. A assimilação desses valores é o entendimento do que faz mais sentido para mim, do que é mais importante. A pessoa que pensa, fala e age deve estar em harmonia, deve ser coerente; nesse sentido, o que eu espero dos outros eu faço, pois esse é o valor que tenho. A pessoa que assimilou os valores é chamada de daivi, e, a pessoa que faz apenas o lhe é conveniente é chamada de asura.

Nos purāṇas existem rākṣasa e asuras. O rākṣasa é aquele que faz atos destrutivos para a humanidade como Rāvaṇa, que é movido pelos desejos do seu ego. Nos purāṇas os asuras são confusos, as suas ações acontecem sob a ilusão, erro. Na Gītā, asura refere-se a uma pessoa que não assimilou os valores. A professora Glória conta a história de Rāvaṇa no Ramayana.

O que faz o daiva é a discriminação, a capacidade de análise e entendimento - sattva. Rajas é o impulso para o desejo e tamas é a confusão - o que faz de alguém asura. Kṛṣṇa falará mais sobre guṇas no capítulo seguinte.

Kṛṣṇa fala sobre as características dos daivas, a sua riqueza:
- jñāna: uma mente com a capacidade de pensar, entender, questionar;
- dānam: a capacidade de dar, uma natureza generosa;
- damaḥ: valor pela disciplina, autocontrole;
- svādhyāyaḥ: valor pelo estudo e meditação diária;
- abhaya: ausência de medo devido à apreciação de īśvara;
- ārjavam: valor pelo alinhamento (o que penso, falo e faço são coerentes);
- ahiṃsā: valor pela não-violência, mesmo no discurso (vāk tapas);
- satyam: compromisso com a verdade, honestidade (para comigo e para com os outros);
- akrodhaḥ: resolver a raiva;
- tyāgaḥ: capacidade de renunciar, abrir mão de um resultado;
- śāntiḥ: valor por estar quieto, ter momentos de reflexão sobre valores, prioridades, si-mesmo;
- apaiśunam: valor por não falar mal sobre as outras pessoas;
- dayā: desenvolver compaixão, empatia (com os outros seres vivos);
- acāpalam - atenção a pequenos movimentos corporais;
- hrīḥ: modéstia, perceber que qualquer qualidade que se tenha não depende exclusivamente de si, é como um presente que se recebe;
- kṣamaḥ: acomodar as pessoas e situações adversas;
- adrohaḥ: ausência do desejo de ferir outras pessoas;
- dhṛtiḥ: enfrentar uma situação com determinação;

Kṛṣṇa fala depois das características dos asuras:
- dambhaḥ: valor por fingir que tem tantas coisas, preocupação em impressionar;
- darpaḥ: arrogância, colocar-se em superioridade;
- abhimānaḥ: opinião de si-mesmo superior;
- krodhaḥ: ser temperamental, brigar;
- pāruṣyam: ironia, desconsideração;
- ajñānam: conhecimento inadequado.

Kṛṣṇa volta a dizer a Arjuna "mā śucaḥ" - não fique triste - pois ele é uma pessoa daiva. Aqueles que continuam aprisionados, os asuras, não têm discriminação e entram nos três grandes portões: kāmaḥ (desejo), krodhaḥ (o valor pela raiva, irritação, agressão) e lobhaḥ (cobiça). Esses três trazem o declínio, a cegueira, à pessoa. São os portões para a ilusão, a autodestruição. Para ser livre desses portões da escuridão e do sofrimento é necessário entender o limite dos objetos, descobrir a paz inerente ao ser, entender o ser fundamental. Vicāra, questionamento/entendimento, é a porta que vai além do portão da escuridão e sofrimento. O conhecimento do dharma é o meio de conhecimento para a discriminação e a ação.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Bhagavad Gita, Aula 15 resumo - Vaidika, Maia

Duração da aula 1h06m00s; cânticos iniciais.

No universo há diferentes corpos, e dentro do corpo há diferentes partes, cabeça, tronco, braços pernas, etc. Olhando, individualmente, todas as pessoas são diferentes; olhando para a base essencial que faz a pessoa a consciência é apenas uma única, isso é comum a todos. Advaita é a visão do Um, uma unidade, única: o meu corpo que vejo separado dos outros é feito dos mesmo cinco elementos básicos que constituem todo o universo. O mundo físico visível, conhecido ou não, é chamado de virat. Todas as mentes pertencem a uma mente cósmica, isso é chamado de hiraṇyagarbha. Fundamentalmente, não existem diferenças entre as pessoas.

No capítulo XIII, falamos sobre o campo e o conhecedor do campo, o universo e a consciência. Neste capítulo, Kṛṣṇa fala sobre o universo visto como uma árvore - esta imagem é usada nos Vedas. Uma árvore é um conjunto inteiro: raiz, tronco, galhos, flores e frutos. A árvore é comparada ao saṃsāra: a raiz do nascimento do indivíduo é devida à ignorância. Assim, a pessoa vai em busca de entender a verdade do mundo "quem sou eu?" e procura libertar-se da roda do saṃsāra, das adversidades e infelicidade encontrando a resposta para a pergunta anterior

A raiz da árvore é o eterno, invisível. Do tronco nascem galhos, folhas, flores e frutos. Nos galhos inferiores e superirores habitam animais, existem ninhos, etc. As nossas experiências na vida ou me levam para uma situação melhor ou pior, para "baixo" ou para "cima", e as nossas ações dão frutos, de sofrimento ou experiências agradáveis. Na upaniṣad diz "num tronco estão dois pássaros: um que se relaciona com tudo o que acontece, saltando de galho em galho, e, um outro que apenas fica parado e observa". Esses dois pássaros referem-se ao indivíduo (jīva) que interage e ao eterno (ātman) que é pleno, imóvel, satisfeito. O pássaro que salta de galho em galho tem que conhecer o pleno, o outro pássaro.

Nessa imagem, as raízes estão para cima, pois a raiz básica é o eterno, ātman, e, os galhos para baixo. As folhas são os Vedas - por onde a árvore respira. Para acabar com a árvore do saṃsāra é necessário descobrir a raiz - não adianta cortar os galhos. A ferramenta para cortar essa árvore é o machado do desapego (vairāgya), ver a realidade do saṃsāra, conhecer o Eu que é livre de nascimento e morte. Esse instrumento (a sādhana), consiste em ver a ilusão relativa à noção de eu e meu: não vendo a minha natureza eterna e essencial eu projeto neste corpo, mente, a minha noção de eu. Depois do apego à entidade, apego-me a objectos relacionados comigo. Livre dessa identificação, desse defeito que é o apego como conhecimento do Eu interno vejo-me livre de desejo pelos objectos como fonte de preenchimento para mim. Dessa maneira, a pessoa alcança o objeto último da vida.

O que é o eterno, Eu? Esse é a Luz, Consciência. O sol não consegue iluminar essa Luz que jamais se torna objeto, nem mesmo a lua, nem o fogo. Essa consciência tudo ilumina e manifesta-se na forma de todo o universo, assumindo formas diferentes - todo o universo nada mais é que a Consciência (īśvara), e, o indivíduo (jīva) nada mais é que uma fagulha dessa Consciência. A Consciência reflete-se nos cinco elementos e na mente que compõe a pessoa, ao longo do ciclo de nascimentos e torna-se necessário descobrir a natureza fundamental.

Aqui, Kṛṣṇa diz que aquilo que chamamos de matéria é, na realidade, Consciência manifesta como matéria.

Nos āśrams, geralmente, este capítulo é recitado antes das refeições e a professora Glória explica o porquê desse costume.

Neste capítulo, Kṛṣṇa diz "eu sou o universo inteiro, os objetos todos, e os sujeitos, os jīvas, o sujeito que come - que faz a ação - e aquilo que é comido - o alimento. (verso 14)." O ato de comer é um ritual sagrado, o sujeito e o objeto tornam-se um único, o mais subtil do que se come tornam-se os pensamentos. Eu sou o que come, o comedor, o sujeito consciente que se alimenta dos objetos e esses objetos externos, as experiências, fazem parte de mim, da pessoa que sou. Aquilo que é não-eu torna-se eu: dois que se tornam um. É īśvara que faz a transformação dos quatro tipos de comida: a bebida, a mastigada, a sugada, e a que se dissolve na boca (ex: mel).

Kṛṣṇa termina dizendo que existem dois puruṣas: o mutável (o universo manifesto) e o imanifesto (em potencial, o desejo, a ignorância) e, ao mesmo tempo, aquele que está alem desses dois, o que lhes confere vida. Assim, na realidade há apenas um verdadeiro puruṣa, a verdade do todo que sou eu.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Bhagavad Gita, Aula 14 resumo - Vaidika, Maia

Duração da aula 1h02m54s; cânticos iniciais.

Foi falado que a causa do universo é brahman, o eterno, além do tempo, a consciência, a base da mente que não está localizada num lugar específico, como no corpo e não está vinculada a ele, mas permite a perceção de todas as coisas, que ilumina tudo e que é o sujeito que permite o conhecimento dos objetos. O sujeito ilumina-se a si mesmo pois a natureza da consciência é de Luz - iluminação - e é autoevidente. A consciência ilumina a mente que, por sua vez, ilumina os sentidos (a luz dos olhos, dos ouvidos, etc). Os sentidos dependem da mente e a mente depende da consciência. Em alguns momentos, a mente apaga-se (como no sono profundo), porém, a consciência, o Eu, ilumina o tempo todo. Quando corpo morre, a consciência essencial que sou permanece, continua a existir, daí que o sujeito não morre, apesar do indivíduo falecer. A morte não acontece apenas no final da vida do indivíduo mas em determinadas fases do crescimento também: para surgir a criança, "morre" o bebé e quando a criança "morre", "nasce" o adulto. Aquilo que Eu sou é Brahman, livre de limitação, eterno, além do tempo e espaço.

O universo aparece devido ao poder de māyā, o poder de criação, o poder de fazer o Um tornar-se múltiplo. Tudo o universo e os objectos têm uma realidade que é chamada mithyā (aparente) que existe enquanto é experenciada e que está em constante mutação. Com o poder de māyā experenciamos a dualidade.

A partir da causa básica que é brahman e o poder de manifestação chamado māyāmāyā , ou prakṛti, surgem objetos, pessoas, pensamentos, ações diferentes. Māyā tem três características básicas, manifestações de três guṇas, invisíveis aos olhos mas que combinadas entre si dão origem ao universo.

Este capítulo XIV é chamado de guṇatraya vibhāga: a divisão em três guṇas. Aqui, Arjuna quer saber sobre a criação do universo. Já no capítulo III Kṛṣṇa diz no verso 27 que toda a atividade de criação é "guṇa". Pela atração e repulsão dos vários objetos há todo o movimento, eu sou atraído por guṇas semelhantes e afasto-me, diferencio-me, separo-me de guṇas diferentes. Daí que, quem faz as ações são os guṇas e sábios são aqueles que conhecem as diferenças entre guṇa e karma, pois, toda a ação é feita pelos guṇas em mim.

Na Índia, fala-se em guṇa em vedānta, yoga, āyurveda, nas artes, etc. A professora Glória faz uma análise dos guṇas:
- Sattva, a qualidade que quando predomina facilita o estudo, a leitura e a meditação;
- Tamas reflete-se por preguiça, falta de clareza, como no final do dia quando o cansaço se instala;
- Rajas está associada ao meio do dia e origina movimento, atividade.

Estas três características existem em todas as pessoas e são importantes na hora certa, daí que tenham associadas certas funções. Para o estudo, deve predominar sattva na mente da pessoa. A professora fala da divisão das castas em relação aos guṇas:
1) Sattva: predominância da capacidade de refletir, estudar, pensar (brāhmaṇa);
2) Raja + sattva: predominância da capacidade de execução, impulso para agir do bem do coletivo, a longo prazo (kṣatriya - governantes)
3) Raja + tamas: impulso para agir e obter ganhos no imediato (vaiśya - comerciantes);
4) Tamas: preferência para agir sob comando (śūdra);

A satisfação ocorre quando a atividade está relacionada com o meu guṇa e o conflito acontece quando a atividade não corresponde ao guṇa (ex: um pensador sobrequalificado para a sua atividade onde apenas recebe ordens ou um comerciante sendo um político).

Um bebé é, predominantemente, tamas (imóvel), a criança/jovem rajas (impulso) e o adulto sattva (pensa). Em determinadas alturas da fase da vida de uma pessoa, a característica predominante pode ser indesejada e a compreensão que os guṇas afetam a pessoa tornam a vida mais fácil. Deve-se trabalhar para uma mente mais sattva para o estudo.

As três características também tem as suas limitações:
- sattva tem a capacidade da mente de refletir com objetividade, sem tristeza ou depressão, mas tem apego a coisas confortáveis, organizadas, à lógica e clareza e repulsa por rajas e tamas, pelo sentimentalismo;
- rajas apega-se ao desejo, a karma e reage a situações diferentes onde a imobilidade permanece;
- tamas tem apego/limitação à preguiça.

É necessário aceitar as pessoas como são, com as suas diferenças. Ao ver essas características em nós tornamo-nos mais tolerantes com os outros e colocamos sattva/discriminação na nossa vida. Quando na mente há Luz, sabe-se que é sattva que predomina, quando há desejo ou ambição atividade é rajas que domina, quando há falta de impulso a mente está tomada por tamas. No final da vida, o guṇa (valor/atividade) presente é o que condiciona uma próxima vida.

Sábio é aquele que não reage há presença dos guṇas, pois ātman é livre dos guṇas. Guṇa é para a mente, a criação, o universo. "Eu sou livre dos guṇas" é o conhecimento do sábio que não reage à sua presença, não se apega a eles, nem deseja um deles. O sábio entende que a vida é um movimento constante dos três guṇas.

terça-feira, 1 de março de 2011

Bhagavad Gita, Aula 13 resumo - Vaidika, Maia

Duração da aula 1h05m42s; cânticos iniciais.

Estamos na terceira e última secção da Gītā, que compreende os capítulos XII a XVIII. A Gītā segue o mahavākya (grande afirmação) "tat tvam asi" que é a essência do ensinamento do vedānta, por isso, denominado também de upadeśa vākya (frase de ensinamento). Tat Tvam asi significa você é Aquele. Alguém diz a outra pessoa: aquele īśvara você é: o indivíduo, limitado, afinal é igual ao Todo, o universo. A verdade do Eu é a mesma verdade do Todo, além da forma, da aparência do corpo e da mente. Torna-se necessário entender "Tvam" (você), "Tat" (īśvara, a causa), e "asi" (a identidade entre os dois". Nos seis primeiros capítulos falamos de tvam, do capítulo VII ao XII falamos em detalhe sobre īśvara e agora começa o discurso sobre a identidade entre os ambos.

O capítulo XIII é chamado kṣetra kṣetrajñam. "Kṣetra" significa campo e "kṣetrajña" significa conhecedor do campo. Campo pode ser um lugar onde se planta alguma coisa, todo o universo, onde ocorre uma ação e o resultado da ações, e, que pode ser objetificado. No texto drg drish viveka este tema também é abordado.

Arjuna deseja conhecer puruṣa e prakṛti. Puruṣa é ātman, o que sou e prakṛti é a natureza, tudo o que é conhecido. O campo é prakṛti e o conhecedor do campo é puruṣa. Arjuna não conhecia estas palavras, daí a pergunta.

Kṛṣṇa responde que kṣetra é este corpo que está aqui. Arjuna tem a sensação que o campo começa depois do corpo, mas não é. O corpo, a mente, as emoções e todos os objectos são o campo. E o conhecedor do campo é aquele que vê, que conhece isso tudo - esse é o sujeito, aquele devido ao qual os meus olhos vêm, os ouvidos escutam, a mente pensa (o ouvido do ouvido, o olho do olho com refere a Upaniṣad). Existe um sujeito que ilumina os sentidos e Eu sou esse sujeito.

A professora Glória dá a ilustração de um pote com cinco aberturas (cinco órgãos de percepção) e uma lamparina dentro que ilumina através das aberturas, comparando com o corpo e a consciência que torna a mente consciente. Essa consciência é a mesma consciência de īśvara, a consciência é sempre sujeito, uma única, que parece múltipla, sem forma específica, livre de limitação, imóvel, não-divisível.

Como eu sinto-me limitado, essa consciência parece estar distante mas aquilo que busco já sou eu.

Kṛṣṇa diz: "Essa consciência que é você é a mesma consciência que é o todo, que é īśvara, essa consciência sou eu. Da mesma maneira que todos os objetos de argila provêm do barro, todos os objetos do universo provêm de mim. Eu sou todos corpos, pés, olhos, cabeças, bocas, ouvidos das pessoas mas, ao mesmo tempo, eu sou livre e independente de todos os corpos. Eu sou a Luz de todas as luzes, além de qualquer escuridão. Eu sou todo o conhecimento e o meio para o conhecimento."

Kṛṣṇa continua: "Puruṣa, o sujeito, a consciência, é aquele que tudo permite, que permite ver, discriminar, emoções, percepção, sem gostos e aversões, que sustenta tudo, que dá vida ao corpo, é o Eu maior que está sentado no corpo, completo, nem dentro nem fora, mas, em todo o lugar."

No capítulo XIII, são dados os vinte valores que deram origem ao livro de Svāmi Dayānanda Sarasvatī chamado "O Valor dos Valores". Se se estudou até aqui é normal uma certa quantidade de śama e dama, algumas qualificações, dharma (papel/valores). No entanto, Arjuna parece não conseguir entender completamente esse ensinamento. Porquê? Ele deseja saber mais sobre os meios para atingir o conhecimento - o tipo de mente - e, assim, Kṛṣṇa fala sobre as qualificações necessárias do sétimo ao décimo primeiro verso. Note-se que ao focar sobre uma das qualificações as outras também vão chegando. Estas qualificações trazem uma simplicidade, objetividade e tranquilidade, sem que se fique preso ao passado, sem falsidades nem complicações. Quanto mais esse valores estiverem claros maior é a capacidade de aceitação do mim mesmo e do universo.

Amānitvam - ausência de exigência de respeito pelas outras pessoas. Assim não espero do mundo, das pessoas reconhecimento do meu valor. Não necessito de elogios apesar de possuir qualificações;
Adambhitvam - ausência de necessidade de reconhecimento de um valor ou qualificação que não possuo (pretensão);
Ahiṃsā - não violência em termos de palavras, atos para qualquer outro ser. Sensibilidade para me colocar no lugar do outro. Não infligir sofrimento desnecessariamente;
Kṣānti - capacidade colocar o coração do tamanho do universo e acomodar as pessoas da maneira que são;
Ārjavam - o alinhamento em relação à mente, fala e ação. Coerência com o que se pensou, disse e fez;
Ācārya upāsanam - o respeito à pessoa que ensina que representa o ensinamento, os Vedas;
Śaucam - pureza e disciplina ao redor (organização);
Sthairam - firmeza, uma vez decidido vou até ao fim;
Ātmavinigrahaḥ - capacidade ter uma disciplina sobre mim mesmo;

O discurso sobre valores é longo, por isso, a professora Glória faz apenas um resumo destes primeiros.

Quando abraço esses valores eles trazem uma paz, e, quando eles não estão claros eu torno-me uma pessoa mais difícil de lidar. Com esses valores eu posso descobrir aquele que Eu sou - a Paz.