quinta-feira, 31 de março de 2011

Bhagavad Gita, Aula 17 resumo - Vaidika, Maia

Duração da aula 1h07m11s; cânticos iniciais.

Os últimos capítulos procuram lançar o entendimento da junção entre o indivíduo com o todo. O indivíduo não é separado do Todo de nenhuma forma. Essencialmente, os dois são a mesma realidade básica que é brahman, o absoluto. Como vimos, as três características básicas, sattva, rajas, tamas, estão presentes no nosso corpo e, ao mesmo tempo, nos objetos, no universo, na criação. A pergunta de Arjuna que inicia o capítulo XVII é um pouco diferente das anteriores, nomeadamente "como devo agir?". Neste momento, a sua preocupação é diferente - Arjuna quer saber o que é śraddhā, a confiança, o acreditar.

Para atingir um objetivo, temos atos para o conseguir. Por exemplo, na tradição védica existe um ritual para dar nome a uma pessoa. Esse ritual tem todo um processo, num templo, com várias etapas para a criança receber o seu nome. Esse nome dá um início e marca um momento. Arjuna diz que existem pessoas que fazem rituais mas não seguem o que as escrituras mandam seguir. Sobre essas pessoas, ele diz que possuem śraddhā, apesar de não seguirem a prescrição da escritura. Arjuna quer saber se essas pessoas são sattva por fazerem rituais, ou, se são tamas por não seguirem a prescrição, ou, se são rajas por terem desejo de alcançar alguma coisa.

Kṛṣṇa explica, como de costume, à sua maneira. Primeiro explica que śraddhā é o acreditar em alguma coisa, a fé, aquilo a que se dá valor. As pessoas agem conforme a sua mente e ela determina o que é importante; assim, é a śraddhā da pessoa e assim é a pessoa. As tendências das pessoas, os seus saṃskāra, são a sua śraddhā.

O tipo de fé que a pessoa tem, independentemente, da sua religião indica a sua śraddhā. Sattva śraddhā é uma fé nos deuses, a devas, a īśvara. Rajas śraddhā é uma fé na satisfação dos seus desejos. Tamas śraddhā é uma fé ligada a fantasmas, desencarnados, para ajuda. O mesmo para a alimentação, tapas e dānam (sattva, rajas ou tamas). Essas quatro ações são escolhidas conforme a sua crença. Pelas ações determina-se a predominância no tipo de pessoa que se é.

No verso 8, Kṛṣṇa fala sobre o alimento sattva e a professora explica a relação entre alimento, yoga e āyurveda. Especificamente, falando sobre alho e cebola são alimentos um cheiro muito forte, e, em excesso, trazem apego (veja-se a forma como o alho cola nos próprios dedos ao ser cortado). Todos os sabores fortes alimentam rajas. A comida sattva é aquele que mantêm a vida, ajuda à clareza na mente (ao contrário do alimento tamas), mantém a força, saúde e bem estar, é suculento, tem um pouco de óleo, tem frescura, é agradável e perfumado.

Se o prato tem todos os sabores cria equilíbrio e traz mais satisfação: doce (como o arroz), salgado, picante (pimenta ou gengibre que mantêm o fogo digestivo e ajudam à digestão), azedo/amargo (iogurte), adstringente (feijão).

A comida rajas é a comida que é muito: quente ou seca ou amarga, picante, salgada... é a comida que se come chorando, ou seja,

Tamas é a comida meio cozinhada ou crua. A comida crua cria Vata no corpo, ou seja, agitação no corpo e mente. A comida muito seca, como o queijo gorgonzola, é tamas. A comida que não alimenta, que não nutre, é tamas. As sobras são tamas. A comida tamas cria tamas [no corpo, na mente].

Sobre o oferecimento, Kṛṣṇa diz que um ritual, ou oração, é sattva yajña e que deve ser feito de uma maneira própria. Deverá ter uma sequência apropriada, adequada, harmoniosa. O ritual é feito sem se pensar no resultado, mas, feito da forma correta com uma mente discriminativa e tranquila. Sobre o rajas yajña Kṛṣṇa diz que é feito devido a querer um resultado. Sobre o tamas yajña Kṛṣṇa diz que é o ritual feito sem se preocupar com prescrição.

Sobre tapas, disciplina, Kṛṣṇa fala sobre a disciplina física, oral e mental. A disciplina física como, pūjā, śaucam, ārjavam (alinhamento), brahmacarya (consciência sobre os impulsos), ahiṃsā (não violência). A disciplina da fala é a atenção ao que é falado, as palavras escolhidas não devem causar reação nas pessoas, devem ser verdadeiras e, ao mesmo tempo, devem ser agradáveis e benéficas, a repetição (japa) e o silêncio (maunam) são exemplos disso. A disciplina mental é o exercício de um pensar claramente, estar tranquilo e atento aos pensamentos, organizar os pensamentos de uma forma agradável (não nutrir pensamentos desagradáveis).

Sobre a disciplina que é sattva, Kṛṣṇa diz que é aquela que deve ser feita. A disciplina que é feita para receber elogio é rajas. A disciplina que é feita para trazer sofrimento ao corpo é rajas.

Sobre dānam, doação, Kṛṣṇa diz que sattva dānam é aquela que acontece quando deve acontecer, quando deve ser dada se a pessoa ou entidade precisar, e que é dada no momento, lugar e à pessoa certa. Tradicionalmente, no momento da entrega diz-se "dātam, dātam, dātam mayā", no sentido "eu dei, agora é seu". A doação rajas acontece devido à espera de um retorno, um resultado (como reconhecimento) e que é dado com relutância. Sobre a doação tamas Kṛṣṇa fala que é uma doação que não tem nada haver com quem recebe, a hora, lugar, recipiente ou forma (com desprezo ou desconsideração) é imprópria.

“Om tat sat” tem a capacidade de neutralizar qualquer erro, obstáculo na execução da ação. Om tat sat são palavras de īśvara, "om" significa tudo o universo físico e causal, o absoluto, pela sua pronuncia está associado todo o conhecimento dos vedas. Tat refere-se ao todo e sat aquilo que é real. O mais importante em qualquer oferecimento é śraddhā, em todas as áreas que haja uma mente mais calma e clareza pois desejo autoconhecimento, isso é sattva.

O que não tem śraddhā é tamas, com o desejo é rajas. Com o objetivo maior, do autoconhecimento é sattva.

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