quinta-feira, 10 de março de 2011

Bhagavad Gita, Aula 14 resumo - Vaidika, Maia

Duração da aula 1h02m54s; cânticos iniciais.

Foi falado que a causa do universo é brahman, o eterno, além do tempo, a consciência, a base da mente que não está localizada num lugar específico, como no corpo e não está vinculada a ele, mas permite a perceção de todas as coisas, que ilumina tudo e que é o sujeito que permite o conhecimento dos objetos. O sujeito ilumina-se a si mesmo pois a natureza da consciência é de Luz - iluminação - e é autoevidente. A consciência ilumina a mente que, por sua vez, ilumina os sentidos (a luz dos olhos, dos ouvidos, etc). Os sentidos dependem da mente e a mente depende da consciência. Em alguns momentos, a mente apaga-se (como no sono profundo), porém, a consciência, o Eu, ilumina o tempo todo. Quando corpo morre, a consciência essencial que sou permanece, continua a existir, daí que o sujeito não morre, apesar do indivíduo falecer. A morte não acontece apenas no final da vida do indivíduo mas em determinadas fases do crescimento também: para surgir a criança, "morre" o bebé e quando a criança "morre", "nasce" o adulto. Aquilo que Eu sou é Brahman, livre de limitação, eterno, além do tempo e espaço.

O universo aparece devido ao poder de māyā, o poder de criação, o poder de fazer o Um tornar-se múltiplo. Tudo o universo e os objectos têm uma realidade que é chamada mithyā (aparente) que existe enquanto é experenciada e que está em constante mutação. Com o poder de māyā experenciamos a dualidade.

A partir da causa básica que é brahman e o poder de manifestação chamado māyāmāyā , ou prakṛti, surgem objetos, pessoas, pensamentos, ações diferentes. Māyā tem três características básicas, manifestações de três guṇas, invisíveis aos olhos mas que combinadas entre si dão origem ao universo.

Este capítulo XIV é chamado de guṇatraya vibhāga: a divisão em três guṇas. Aqui, Arjuna quer saber sobre a criação do universo. Já no capítulo III Kṛṣṇa diz no verso 27 que toda a atividade de criação é "guṇa". Pela atração e repulsão dos vários objetos há todo o movimento, eu sou atraído por guṇas semelhantes e afasto-me, diferencio-me, separo-me de guṇas diferentes. Daí que, quem faz as ações são os guṇas e sábios são aqueles que conhecem as diferenças entre guṇa e karma, pois, toda a ação é feita pelos guṇas em mim.

Na Índia, fala-se em guṇa em vedānta, yoga, āyurveda, nas artes, etc. A professora Glória faz uma análise dos guṇas:
- Sattva, a qualidade que quando predomina facilita o estudo, a leitura e a meditação;
- Tamas reflete-se por preguiça, falta de clareza, como no final do dia quando o cansaço se instala;
- Rajas está associada ao meio do dia e origina movimento, atividade.

Estas três características existem em todas as pessoas e são importantes na hora certa, daí que tenham associadas certas funções. Para o estudo, deve predominar sattva na mente da pessoa. A professora fala da divisão das castas em relação aos guṇas:
1) Sattva: predominância da capacidade de refletir, estudar, pensar (brāhmaṇa);
2) Raja + sattva: predominância da capacidade de execução, impulso para agir do bem do coletivo, a longo prazo (kṣatriya - governantes)
3) Raja + tamas: impulso para agir e obter ganhos no imediato (vaiśya - comerciantes);
4) Tamas: preferência para agir sob comando (śūdra);

A satisfação ocorre quando a atividade está relacionada com o meu guṇa e o conflito acontece quando a atividade não corresponde ao guṇa (ex: um pensador sobrequalificado para a sua atividade onde apenas recebe ordens ou um comerciante sendo um político).

Um bebé é, predominantemente, tamas (imóvel), a criança/jovem rajas (impulso) e o adulto sattva (pensa). Em determinadas alturas da fase da vida de uma pessoa, a característica predominante pode ser indesejada e a compreensão que os guṇas afetam a pessoa tornam a vida mais fácil. Deve-se trabalhar para uma mente mais sattva para o estudo.

As três características também tem as suas limitações:
- sattva tem a capacidade da mente de refletir com objetividade, sem tristeza ou depressão, mas tem apego a coisas confortáveis, organizadas, à lógica e clareza e repulsa por rajas e tamas, pelo sentimentalismo;
- rajas apega-se ao desejo, a karma e reage a situações diferentes onde a imobilidade permanece;
- tamas tem apego/limitação à preguiça.

É necessário aceitar as pessoas como são, com as suas diferenças. Ao ver essas características em nós tornamo-nos mais tolerantes com os outros e colocamos sattva/discriminação na nossa vida. Quando na mente há Luz, sabe-se que é sattva que predomina, quando há desejo ou ambição atividade é rajas que domina, quando há falta de impulso a mente está tomada por tamas. No final da vida, o guṇa (valor/atividade) presente é o que condiciona uma próxima vida.

Sábio é aquele que não reage há presença dos guṇas, pois ātman é livre dos guṇas. Guṇa é para a mente, a criação, o universo. "Eu sou livre dos guṇas" é o conhecimento do sábio que não reage à sua presença, não se apega a eles, nem deseja um deles. O sábio entende que a vida é um movimento constante dos três guṇas.

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