terça-feira, 1 de março de 2011

Bhagavad Gita, Aula 13 resumo - Vaidika, Maia

Duração da aula 1h05m42s; cânticos iniciais.

Estamos na terceira e última secção da Gītā, que compreende os capítulos XII a XVIII. A Gītā segue o mahavākya (grande afirmação) "tat tvam asi" que é a essência do ensinamento do vedānta, por isso, denominado também de upadeśa vākya (frase de ensinamento). Tat Tvam asi significa você é Aquele. Alguém diz a outra pessoa: aquele īśvara você é: o indivíduo, limitado, afinal é igual ao Todo, o universo. A verdade do Eu é a mesma verdade do Todo, além da forma, da aparência do corpo e da mente. Torna-se necessário entender "Tvam" (você), "Tat" (īśvara, a causa), e "asi" (a identidade entre os dois". Nos seis primeiros capítulos falamos de tvam, do capítulo VII ao XII falamos em detalhe sobre īśvara e agora começa o discurso sobre a identidade entre os ambos.

O capítulo XIII é chamado kṣetra kṣetrajñam. "Kṣetra" significa campo e "kṣetrajña" significa conhecedor do campo. Campo pode ser um lugar onde se planta alguma coisa, todo o universo, onde ocorre uma ação e o resultado da ações, e, que pode ser objetificado. No texto drg drish viveka este tema também é abordado.

Arjuna deseja conhecer puruṣa e prakṛti. Puruṣa é ātman, o que sou e prakṛti é a natureza, tudo o que é conhecido. O campo é prakṛti e o conhecedor do campo é puruṣa. Arjuna não conhecia estas palavras, daí a pergunta.

Kṛṣṇa responde que kṣetra é este corpo que está aqui. Arjuna tem a sensação que o campo começa depois do corpo, mas não é. O corpo, a mente, as emoções e todos os objectos são o campo. E o conhecedor do campo é aquele que vê, que conhece isso tudo - esse é o sujeito, aquele devido ao qual os meus olhos vêm, os ouvidos escutam, a mente pensa (o ouvido do ouvido, o olho do olho com refere a Upaniṣad). Existe um sujeito que ilumina os sentidos e Eu sou esse sujeito.

A professora Glória dá a ilustração de um pote com cinco aberturas (cinco órgãos de percepção) e uma lamparina dentro que ilumina através das aberturas, comparando com o corpo e a consciência que torna a mente consciente. Essa consciência é a mesma consciência de īśvara, a consciência é sempre sujeito, uma única, que parece múltipla, sem forma específica, livre de limitação, imóvel, não-divisível.

Como eu sinto-me limitado, essa consciência parece estar distante mas aquilo que busco já sou eu.

Kṛṣṇa diz: "Essa consciência que é você é a mesma consciência que é o todo, que é īśvara, essa consciência sou eu. Da mesma maneira que todos os objetos de argila provêm do barro, todos os objetos do universo provêm de mim. Eu sou todos corpos, pés, olhos, cabeças, bocas, ouvidos das pessoas mas, ao mesmo tempo, eu sou livre e independente de todos os corpos. Eu sou a Luz de todas as luzes, além de qualquer escuridão. Eu sou todo o conhecimento e o meio para o conhecimento."

Kṛṣṇa continua: "Puruṣa, o sujeito, a consciência, é aquele que tudo permite, que permite ver, discriminar, emoções, percepção, sem gostos e aversões, que sustenta tudo, que dá vida ao corpo, é o Eu maior que está sentado no corpo, completo, nem dentro nem fora, mas, em todo o lugar."

No capítulo XIII, são dados os vinte valores que deram origem ao livro de Svāmi Dayānanda Sarasvatī chamado "O Valor dos Valores". Se se estudou até aqui é normal uma certa quantidade de śama e dama, algumas qualificações, dharma (papel/valores). No entanto, Arjuna parece não conseguir entender completamente esse ensinamento. Porquê? Ele deseja saber mais sobre os meios para atingir o conhecimento - o tipo de mente - e, assim, Kṛṣṇa fala sobre as qualificações necessárias do sétimo ao décimo primeiro verso. Note-se que ao focar sobre uma das qualificações as outras também vão chegando. Estas qualificações trazem uma simplicidade, objetividade e tranquilidade, sem que se fique preso ao passado, sem falsidades nem complicações. Quanto mais esse valores estiverem claros maior é a capacidade de aceitação do mim mesmo e do universo.

Amānitvam - ausência de exigência de respeito pelas outras pessoas. Assim não espero do mundo, das pessoas reconhecimento do meu valor. Não necessito de elogios apesar de possuir qualificações;
Adambhitvam - ausência de necessidade de reconhecimento de um valor ou qualificação que não possuo (pretensão);
Ahiṃsā - não violência em termos de palavras, atos para qualquer outro ser. Sensibilidade para me colocar no lugar do outro. Não infligir sofrimento desnecessariamente;
Kṣānti - capacidade colocar o coração do tamanho do universo e acomodar as pessoas da maneira que são;
Ārjavam - o alinhamento em relação à mente, fala e ação. Coerência com o que se pensou, disse e fez;
Ācārya upāsanam - o respeito à pessoa que ensina que representa o ensinamento, os Vedas;
Śaucam - pureza e disciplina ao redor (organização);
Sthairam - firmeza, uma vez decidido vou até ao fim;
Ātmavinigrahaḥ - capacidade ter uma disciplina sobre mim mesmo;

O discurso sobre valores é longo, por isso, a professora Glória faz apenas um resumo destes primeiros.

Quando abraço esses valores eles trazem uma paz, e, quando eles não estão claros eu torno-me uma pessoa mais difícil de lidar. Com esses valores eu posso descobrir aquele que Eu sou - a Paz.

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