sábado, 14 de julho de 2012

Tattvabodhaḥ, aula 2, resumo - Vaidika

Duração da aula 1h08m41s; cânticos iniciais.

A aula começa com o canto do primeiro verso do livro, a oração, que introduz o livro. A professora Gloria explica que este verso é uma saudação ao mestre que escreveu o livro e a apresentação dos quatro pontos básicos de um livro: o adhikārī, a pessoa a quem se dirige (“mumukṣunam” - as pessoas que desejam a liberação do sentimento de limitação), o tema (viṣaya – “tattvabodhaḥ”, conhecimento da verdade, do real, livre da limitação) e phala, o fruto, o resultado final – “hita”, o bem para que se esteja bem consigo mesmo, feliz, pleno, a sensação de ser suficiente em si mesmo e a forma de chegar a isso, também a conexão entre o indivíduo e o livro, saṃbandha, de que forma chego na meta - através do conhecimento fornecido pelo livro.

E, continua, no segundo verso, “nós falaremos agora desse método de discriminação daquilo que é real”, a verdade desse universo, do criador. A discriminação entre o que perece e o imperecível. Existe um imperecível? E, existindo, o que é esse imperecível? Que seja uma forma de levar a mokṣa, a libertação.

Essa libertação é levada ao adhikārī, a pessoa qualificada. A pessoa qualificada é aquela que tem sādhanacatuṣṭaya: quatro qualificações. Essas quatro qualificações são:
1) a discriminação entre aquilo que é eterno e o que não eterno;
2) desapego;
3) grupo de seis qualidades da mente começando por uma mente objetiva, em paz e recetiva (não-reativa), tranquila, organizada e disciplinada;
4) o desejo pela libertação, um desejo maior pelo autoconhecimento.

O eterno é um, livre de limitação, não pode ser dois, senão é limitado, e o nome desse é brahman, “o maior de tudo”. Tudo o resto, que é diferente desse, é então não-eterno, perecível, limitado em termos de tempo (kāla), espaço (deśa) e forma (vastu). Essa é a discriminação entre o eterno e não-eterno.

Desapego, virāga/vairāgya, é a ausência do desejo por coisas (objetos, relacionamentos, etc) deste ou de outro mundo (svarga loka) e, também, da ilusão que essas coisas vão trazer a felicidade permanente.

A riqueza de qualificações da mente é: śama, dama, uparama, titikṣā, śraddhā e samādhāna.

Śama é “manonigraha”, um comando sobre a mente, a capacidade de não deixar que a mente se torne emocional demais, ou surjam demasiados desejos, gostos e aversões. E, ainda, conhecer bem a mente.

Dama é a capacidade de segurar “o fio de todo o corpo”. Depois de perder o controlo da mente, ter a capacidade de segurar a palavra, o gesto, a ação (que poderia agravar ainda mais a situação).

A professora conta a história e a utilidade do caderninho para anotar as situações que nos irritam e que, com o tempo, nos leva a conhecermo-nos melhor.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Tattvabodhaḥ, aula 1, resumo - Vaidika

Duração da aula 59m57s; cânticos iniciais.

A professora Gloria começa por falar dos quatro puruṣārthas: dharma (dever, meios adequados), artha (segurança), kāma (prazer) e mokṣa (libertação do interesse dos três primeiros, da insatisfação ou da sensação de vazio).

Depois, define mokṣa como sendo a busca por uma estado de estar sempre bem, pleno e seguro. Como o caminho para me levar àquilo que eu quero.

No Sânscrito, temos as palavras “aprāpta” (não ter), “prāpti” (ter) e “karma” (ação). Com a ação adequada eu aproximo-me daquilo que eu desejo e não possuo. O Absoluto não pode ser produzido. O Absoluto “É”, o tempo todo. Como alcançar o que já é existente e porquê desejar aquilo que já existe?

Para responder a essa pergunta, a Gloria conta a história da avozinha que esquece os óculos na cabeça e sai em busca de procurar os óculos onde eles não estão, mas em lugares que ela conhece.

Em seguida, conta também a história da senhora que estava a costurar e perde a agulha. Não sabendo onde a agulha está, procura por ela em lugares onde há mais luz, muito embora a tenha perdido numa outra zona menos luminosa. Assim somos nós, à procura da felicidade nos objetos que nos saltam à vista. Devido a quê? Devido à ignorância. Quando a causa é ignorância, a solução só pode ser conhecimento.

Quando a avozinha fica a saber, por alguém, que os óculos estão na cabeça a sua busca termina – esse é o momento da iluminação, do reconhecimento (o fim da angústia e sofrimento).

Alaṁbuddhi (atitude de suficiência) é mokṣa, não querer mais nada, é o parar de buscar e encontrar uma felicidade, um preenchimento. Não é o conquistar alguma coisa, mas descobrir um preenchimento em si mesmo e, assim, tudo o resto é extra – não é preciso limitar-se e privar-se de nada, mas sim viver em plenitude. A vida passa a ter uma direção, esse conhecimento – o conhecimento do ser que sou, em mim mesmo, completo.

Não se fala aqui de entender a pessoa, a personalidade, o histórico, mas conhecer o que eu sou, fundamentalmente, imutável, a presença constante, esse ser livre de limitação. Descobrindo esse, tudo o mais se torna resolvido. O conhecimento é como uma luz que ilumina.

A professora fala agora sobre o meio de conhecimento: vendo uma parte conclui-se sobre o resto – isso é lógica. Ver um estado e depois ver outro e, a seguir, conclui-se sobre outra coisa – inferência. Qual o meio para conhecer o absoluto? Tem um meio, as palavras, que apontam para o conhecimento de si-mesmo. Tattvabodha (e Advaita Vedānta) é um estudo feito através das palavras. As palavras que falam de objetos dão uma visão parcial. O objeto que estudamos é “o Absoluto que sou eu mesmo”. Quando se ouve falar do absoluto que sou eu mesmo tudo se torna claro, porque “eu sou o absoluto”.

A Gloria conta a história dos dez meninos que vão tomar um banho de rio. Pede-se ao mais velho que tome conta de todos. Quando, finalmente, decidem voltar o mais velho conta apenas nove meninos. O menino mais velho começa a ficar desesperado, conta várias vezes os meninos, uma e outra vez, sempre com o mesmo resultado. Próximo a ele um ancião observa tranquilamente. Assim, propõe-se a ajudar o rapaz dizendo-lhe: “tattvamasi” - tu és aquilo que buscas, não é preciso produzir um outro, "tu (já) És”.

Inicialmente, é necessário confiar naquele que fala e ensina. O objetivo de Vedānta é lançar luz sobre eu mesmo e, como um espelho, proporcionar um conhecimento mais profundo de mim.