segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Dakṣiṇāmūrti Stotram, aula 3, resumo - Vaidika

Duração da aula 45m15s; cânticos iniciais.

Quando se fala de darśana, uma visão/filosofia/interpretação parcial do Veda, sobre a Realidade Última, tattva, a Verdade do universo e mokṣa, a liberação, darśana confere ou discute as definições do Veda. Quando o Veda fala nos rituais, a pessoa é considerada como pessoa (indivíduo) porque brahma não faz ritual; o Veda também tem a visão de algo a mais do relativo e essa visão do absoluto é a visão típica do Veda. Então, se as darśanas dizem algo sobre a Verdade pode haver refutação porque o Veda fala da visão advaita, a “visão maior” - tattvamasi.

Conta-se a historia de Kumarilabata e Śaṅkara para ilustrar a necessidade de conhecer outros pontos de vista para se poder refutar com conhecimento de causa outras visões, como o budismo, acerca da Realidade Última.

No verso 5, Śaṅkara menciona que:
a) para alguns, “o Eu”, a realidade, é o corpo – portanto “aproveite o corpo ao máximo e tenha tantos prazeres quanto possíveis, sem se importar com dharma, já que, quando acabar o corpo acaba tudo!”. Do género: “faça dívidas, já que, depois de morrer você já não paga!”.
b) para outros, mais que o corpo o prāṇa, o prāṇa é o mais importante – ainda assim é materialista (“cuidar ao máximo da saúde, mas, aproveite e divirta-se”);
c) outros dizem que é os sentidos e a mente, “o Eu é a mente” – então torna-se necessário ter uma boa mente.
d) outros diz também: “não, a realidade é calām buddhi, a consciência que está sempre em movimento, a cada momento uma nova consciência”;
e) outros ainda dizem: “Não é isso! Na hora que se está consigo mesmo, em sono profundo, não existe nada, apenas um vazio total, e esse vazio é você, śūnyam.” Referindo-se ao zen budismo, o sujeito quando se dissolve é esse vazio, sem forma, sem nada.

Para Śaṅkara, todos eles estão enganados quanto à realidade, e “são como mulheres”, latu sensu, já que, independentemente de perceberem as explicações não as seguem pois sentem de outra forma, sem lógica. Ou, são como as crianças, sem maturidade, sem sustentarem os seus argumentos. Ou como os cegos, que se fiam somente na experiência e na lógica e não no śastra. Ou como o idiota, que nem vale a pena escutar ou seguir, ou seja, os śūnya vada – raciocinam e argumentam mas concluem que o Eu é um vazio, “como alguém pode dizer que Eu não existo – o Eu é śūnyam”.

“Saudações a esse mestre que destrói todos os grandes erros criados por essa projeção de māyā”. Ela é maravilhosa porque projecta cada coisa diferente para cada pessoa, e, mesmo olhando a mesma coisa vêem coisas diferentes.

Quando existe eclipse, do sol ou da lua, a terra cobre-os parcialmente. Primeiro, a luz que tudo ilumina é o sol e, segundo, ainda se vê uma luz ao seu redor. Embora estejam ocultados há evidências que estejam ali. Neste verso, diz que eles apesar de ocultados têm uma forma de saber que estão ali , ou seja, da mesma forma no sono profundo há uma maneira de saber que “o Eu” está ali, pois, na hora de acordar a pessoa diz: “dormi, mas dormi bem”. Há ausência do objeto mas há a consciência disso. O sol apesar de eclipsado, ocultado, não está ausente. Da mesma maneira, encoberto por essa māyā, no sono profundo, com os sentidos recolhidos quando acorda diz “eu dormi” - essa afirmação demonstra que havia qualquer coisa ali. A memória, “acordado, dormindo, acordado – eu estava acordado, dormi e acordei” é o maior argumento. Na Gītā, Kṛṣṇa diz que é a memória e o esquecimento. O esquecimento também é ótimo e necessário para podermos crescer, lembranças e esquecimentos são uma grande benção.

Fala-se também de vários estados: a infância, a adolescência, a fase adulta e de idoso. Tudo isso é passado por um sujeito que é o mesmo apesar das fases mudar. O conhecimento muda mas “o Eu” continua. Também existe o acordado, o sonhando o dormindo. As várias condições como corpo físico, subtil, causal, constantemente mudando e mutuamente oposto – infância não é adolescência nem estado adulto. Quando uma acontece a outra não acontece, o acordado não é o dormindo. É único e está em constante transformação. Porém, existe um anuvartamānam, uma continuidade – a experiência do constante mutante é uma experiência, mas, apesar disso, existe alguma coisa que continua “anuvartamānam: aham, aham, aham”. O conceito de Eu é Eu de qualquer maneira, “eu na infancia”, “eu na junventude”, “eu na fase adulta”, acrescentando adjetivos, “gordo”, “pequeno”, etc, mas, “só Eu era presença”. Existe uma presença constante apesar das mudanças. O intelecto estava sempre brilhante da mesma maneira, consciente, sempre brilhando. Esse mestre que desdobra, revela o sujeito, “o Eu”, aos seus discípulos, devotos desse conhecimento, é Dakṣiṇāmūrti (os outros professores só abrem a boca). A esse as minhas reverências.

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