segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Bhagavad Gita, Aula 10 resumo - Vaidika, Maia

Duração da aula 1h07m28s; cânticos iniciais.

Do capítulo VII ao capítulo XXII, a Gītā fala de īśvara, a causa do universo. No capítulo anterior, Kṛṣṇa fala sobre brahman e define brahman - aquilo que é akṣaram, param, imutável, eterno, a natureza essencial de tudo o que existe, a base da criação. Neste capítulo XIX, ele fala de ātman, o Eu - a natureza essencial do indivíduo - mas através de īśvara.

A consciência não está localizada num lugar, não tem um início, nem fim, é além de qualquer medida, é independente do tempo, chamada de Brahman, é ātman. Eu vejo-me como o corpo, o pensamento, emoções, vejo-me limitado, carente. A visão do Eu da Gītā e de Vedānta é diferente e Kṛṣṇa quer transmitir essa visão. Aquilo que é o Eu é o Eu em todas as pessoas, em todos os seres, apesar de corpos, mentes ou intelectos diferentes - o sujeito é um único e sempre o mesmo. Então o ātman é brahman, livre de limitação e isso é preciso ser reconhecido. Esse ātman que é brahman é a causa da criação, então ele é īśvara - a verdade da criação - a causa inteligente e a causa material da criação.

Daí que, este capítulo seja chamado de rājavidyā - o conhecimento real, o conhecimento superior. Este conhecimento deve ser dominado, pois essa é a base do nosso relacionamento com o mundo, já que, o Eu é a base inclusive para o meu relacionamento comigo mesmo. A visão de um Eu eterno não é reconhecido por mim, à partida. Este conhecimento também é chamado de secreto (rājaguhya), pois não será entendido se não houver um preparo, um desejo, uma maturidade e, assim, estar pronto para entender plenamente. O segredo é sobre esse Eu que é livre de limitação, a base de tudo, contrário àquilo que eu tinha concluído sobre mim.

Eu posso ter uma experiência incrível, como a experiência de samādhi, ter uma experiência transcendental de advaita, através de yoga, de prāṇāyāma e que nivela tudo, em que todas as barreiras entre sujeito e objeto são quebradas. Essa experiência não resolve o meu problema de dualidade, de me sentir carente e limitado e assim, a experiência não transforma nada. Kṛṣṇa quer mostrar que apenas o conhecimento revela o ser eterno que sou, que já existe, que é realidade. Eu não vou produzir o eterno, mas reconhecer o que já sou - isso é rājavidyā. O conhecimento chamado de um meio de purificação, reconhecer que Eu já sou eterno, puro.

Os objetos não têm uma realidade independente, todo o universo depende da consciência e nada existe fora dela. Todo o universo de nomes e formas é sustentado através de ātman, a consciência sem uma forma específica, mas, que assume uma forma a partir da sua base.

A professora Glória dá vários exemplos para exemplificar este conceito, como o pote que existe na argila e a argila que existe em várias formas diferentes sem ser pote - a forma (pote) depende da matéria mas a causa (argila) não depende da forma (pote), da forma, comparando com o que Kṛṣṇa diz: "todos os objectos que existem estão em Mim (consciência) mas eu não estou neles" - o Absoluto não depende do universo, mesmo sem ele, o Absoluto é.

Desta maneira, o Absoluto é real, o universo relativo é aparente, pois depende do primeiro. Como os papéis que dependem de um ator, e que os espetadores chegam a confundir com a personagem que o ator desempenha. O universo não tem realidade própria, absoluta, depende de Mim, é relativo, pois o único que é absoluto é ātman, aquilo que Eu sou - esse é o poder de īśvara, o poder (yoga) de fazer aparecer, como que por magia, denominado "māyā". Isto não é facilmente percebido pela mente, pois ela mesma também é um produto de māyā. Conhecendo Este, tudo o mais será como que conhecido.

Neste capítulo, tem um verso especial, muito bonito, o verso 22, que marca o meio da Gītā, dos seus 700 versos. Refere que o que é necessário para entender isto é ter a visão clara de rāga/dveṣa, da reação, da rejeição e ter uma mente calma, tranquila; pois īśvara é o karmaphaladatṛ - aquele que dá os frutos da ação. Trata-se necessário apreciar a Ordem e receber o que com uma nova ação sem estar preocupado com yoga (aquisição daquilo que eu não ainda não tenho: reconhecimento, etc) e kṣema (manutenção do que já foi conquistado), já que, essa mesma Ordem toma conta delas. O meu controle está apenas na ação, e, eu devo agir. O fruto vem pelas leis impessoais - o resultado da ação vem Dele - essa é a atitude de karma yoga que torna a obtenção do conhecimento mais fácil e evidente.

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