segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Bhagavad Gita, Aula 8 resumo - Vaidika, Maia

Duração da aula 57m26s; cânticos iniciais.

Se existe uma libertação, uma liberdade, livre de limitação, essa tem que ser a natureza do sujeito "eu já sou completamente livre", não pode ser alcançar algo que seja eterno, pois, dessa forma não será um descobrir uma realidade já existente. A visão de limitação em termos de tempo e espaço, uma identificação com o corpo, a mente e as emoções é, em si mesma, a limitação - essa visão é contraria à visão de Vedānta, do śastra, de Kṛṣṇa.

Essa visão soa como algo verdadeiro, porque, em vários momentos da vida temos essa experiência do ilimitado.

Este foi o assunto dos seis capítulos anteriores. Entramos agora na parte de estudo sobre īśvara.

Tudo o que vejo no universo parece ter uma razão de ser, ter uma lógica. Se tenho fome existem objetos para saciar essa fome, para respirar estamos munidos com órgãos para o fazer, a própria chuva afeta e relaciona-se com todos os seres, plantas, oceano, nuvens... há uma ordem, uma inteligência, na criação. Para complementar o entendimento sobre mim mesmo, quero saber quem está por detrás dessa criação, quem é o responsável por esse universo todo?

Analisando a causa de um objeto chegamos em duas causas: a material e a inteligência por detrás (upādāna kāraṇa e nimitta kāraṇa). Por exemplo, uma mesa tem a madeira como causa material e a sabedoria de alguém como causa inteligente. Há uma razão de ser para tudo, um porquê, tudo é relevante e tem uma inteligência - como as cores específicas de cada tipo de flor ou animal.

O original dos Vedas é dizer que a causa material e inteligente do universo é a mesma. Normalmente, eu penso que um objeto tem uma causa material separada da causa inteligente, como por exemplo, ao comprar uma mesa eu apenas trago comigo a causa material. Assim, em relação ao universo eu julgo haver um criador separado, que está algures no Céu.

Os Vedas dão o exemplo da aranha, que é a causa inteligente e material da teia, para demonstrar que īśvara - o criador - não se separa da sua criação nunca, o seu corpo é a criação, assim como no sonho eu sou a causa material e inteligente do sonho que estou a sonhar.

Esse assunto não é uma causa de crença pois esse universo inteiro tem que ter uma causa, apesar de eu a desconhecer. Se não houvesse causa não existiria efeito - o universo. Que causa é essa e onde está? Esse é o estudo de Vedānta.

Esse Todo é da mesma natureza que Eu, daí que, Eu sustento esse universo. Se īśvara é a causa desse universo, onde esse universo está, está esse īśvara. Todas as formas pertencem a esse criador. Todos os elementos subtis e densos, pensamentos e emoções, e ainda, o imanifesto - parā prakṛti (natureza superior, eterna e livre de limitação, ou seja, puruṣa) e aparā prakṛti (natureza inferior, ou seja, os elementos, as formas). Os objetos e corpos e a própria vida - a consciência que dá realidade a tudo. O jīva é uma parte desse todo. Assim, para me relacionar com o Todo, numa pūjā, por exemplo, eu escolho uma forma simbólica (ex: Ganeṣa). Eu posso dizer "todo o universo existe em mim porque esse "mim" é Consciência, ou, que todo o universo é sustentado por mim, o puruṣa". Com esse entendimento posso também dizer "aham brahmāsmi" - não existe separação entre mim e o todo, ela é aparente - como a divisão entre onda e oceano (a onda nada mais é que água, a verdade do próprio oceano).

A consequência nessa visão de īśvara é a compreensão que me permite ver a ordem em tudo, no corpo, na mente, nos frutos da ação vindos de leis impessoais e infalíveis. Daí que uma semente trará um determinado fruto específico e não um outro fruto qualquer. Com esta visão, eu posso relaxar e confiar pois não existe injustiça mas somente ordem e receber o resultado que chega. Não sendo aquilo que eu desejo eu posso fazer uma nova ação para modificar. Neste modo, eu posso relacionar-me com o Todo.

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